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Suicídios escolares

Suicídios escolares

Dores Valcárcel Guitiám

Os recentes suicídios dum adolescente de quinze anos em Barcelona e o dum neno de onze em Madrid lembram o do rapaz basco Jon e confirmam a inoperância das poucas medidas tomadas desde há anos pola Administraçom educativa como a criaçom de Observatórios da convivência escolar (expressom politicamente bem correcta, eufemística e totalmente burocratizada na sua realidade referencial) dentro das próprias administraçons de educaçom e nengumha eficaz dentro da maior parte dos Centros. Boa parte do professorado considera que o alunado deve ser quem de aprender a defender-se por si mesmo e lembra com nostalgia como na sua infância os rapazes ajustavam contas entre eles sem a intervençom dos adultos devolvendo violência por violência, como se este método pudesse ser levado hoje à práctica pola vítima que nem sequer pudo praticar deportes com técnicas de defesa (cousa que nom estaria demais e talvez poderia funcionar de jeito algo dissuasório por parte do considerado “diferente”polos acossadores). Hoje conhece-se algo melhor a violência de género do que a escolar pois ainda que provenham da mesma raiz -a dominaçom do feble polo forte, e do modelo de organizaçom social da espoliaçom dos pobres polos ricos-, a essencial soidade do adolescente acossado e a falta de atençom perceptiva dos que o arrodeiam propicia que a violência siga a exercer-se durante longas temporadas na total escuridade, na cotidianidade mais soterrada.

A estremecedora carta do neno de Madrid e a denuncia dos seus pais relatando como os acossadores lhe chamavam “empollón” e ”maricón”- palavra esta que se reitera cada vez mais com insidia inquisitorial entre o alunado de muitos Centros escolares, - trouxo-me à memoria um livro apabulhante muito ilustrativo de como se produze este acosso, En finir avec Eddy Bellegueule, do francês Edouard Louis publicado por Editions du Seuil em 2014 e que causou impacto na sociedade francesa à que lhe lembrou ademais que a exclusom social mais feroz reina em toda parte no mundo capitalista e desde logo também entre os esquecidos da Franza. Penso que se deveria extremar a atençom quando se combinam estes dous factores: exclusom social e qualquer “diferencia”, muito particularmente a da orientaçom sexual, preocupaçom máxima entre tantos adolescentes.

A primeira noticia deste libro chegou-me através da emissom literária da televisom internacional francesa que aquela noite tinha quatro escritores convidados no plató. Quando lhe chegou o turno a Edouard Louis, o apresentador pediu-lhe que se erguera do assento e dixo ao público: “ólhe-no bem, tem 21 anos” e passou ao entrevista-lo. O autor estuda Ciências políticas em Paris e já publicara o livro Pierre Bourdieu: l´insoumission en héritage PUF, 2013).

Em finir avec Eddy Bellegueule é um livro de ficçom autobiográfico que tenta contar o inferno da infância e adolescência do próprio autor num povo do departamento do Nord, na Picardie. O próprio título do livro é já unha cominaçom: rematar com Eddy Bellegueule, (nome próprio e apelido que seus pais dérom ao autor no seu nacimento) cousa que levará também a cabo mais tarde mudando este nome polo de Edouard Louis. Eddy é o narrador que conta em vários capítulos a sua vida, a dum rapaz que se vai descobrir homossexual “afeminado”, e a certeza do seu goze, num médio familiar e social no que o paro, o álcool, a televisom - há quatro ou cinco omnipresentes televisons funcionando na casa -, o frio impenitente, o ruído, a promiscuidade e a inconfortabilidade nom deixam possibilidade ao repouso. E no que a cultura masculinizante vai de mao com a violência. Nom se sai indemne da leitura deste livro escrito por um sociólogo que nom aforra na descriçom das violências exercidas sobre del, sobretodo na etapa do collège (correspondente a nossa etapa da ESO), quando com onze anos se desloca diariamente a vila mais próxima. Aqui a narraçom corta o alento e é talvez por isso que o livro fora refusado por varias editoras. Ocorre que a verdadeira miséria sempre se oculta, como mui bem explicou o autor com estas palavras:

“Quigem restituir a violência desse mundo (...) devida à miséria e à exclusom, a violência de todos contra todos, dos homens contra as mulheres, dos heterossexuais contra os gays, dos obreiros contra os perceptores da Risga, dos da Risga contra os estrangeiros (aos que olham na televisom pois raramente batem com eles na cotidianidade). Isto é algo mui difícil de contar porque quando se fala desses mundos, dos que realmente quase nunca se fala, quando se fala das classes populares, fala-se geralmente dos obreiros, e esquece-se essa gente, nom se fala dela. E se se fala, entom um é tachado de racismo de classe, ou de prolofobia, como se soe dizer, quando me parece absolutamente essencial mostrar essas realidades se se quigerem mudar.”

Mas, nengumha piedade há nesta historia cara o mundo que se deixou atrás. Nengumha piedade com ninguém. Nada da compreensom de Bertrand Tavernier no seu filme Ça commence aujourhui, que também se desenvolve no mesmo departamento do Nord, entre maes depressivas enganchadas a televisom e nenos abándonicos, nada de solidariedade na escola e no collège. O autor terá que aceder ao lycée para encontrar amizades e professorado favorável. Adivinha-se tam só a felicidade do escritor por haver tido acesso a um médio bem diferente.

Última modificação emSegunda, 25 Janeiro 2016 12:05
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