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Entrevistamos Pim Patinho, presidenta da Coordenadora de Equipas de Normalizaçom Lingüística de Ferrol

Entrevistamos Pim Patinho, presidenta da Coordenadora de Equipas de Normalizaçom Lingüística de Ferrol

Conversamos com Pim Patinho, professora de secundário e atual presidenta da Coordenadora de Equipas de Normalizaçom Lingüística da comarca de Ferrol, um organismo que neste ano completa 25 anos de existência e ativismo pola língua no ámbito educativo, agrupando coletivos de centros públicos e privados.

Trata-se da mais antiga Coordenadora de Equipas existente no nosso país, mas nom sei se chegou a existir coordenaçom a nível nacional?

A nossa é das mais antigas que tenha mantido umha atividade continuada durante tanto tempo. Existem outras noutras comarcas, tivemos contactos ao longo deste tempo, mas nom mantemos um trabalho coordenado a nível nacional, centramo-nos na comarca.

A vossa atividade mais conhecida, pola dimensom social e por levar a promoçom da língua fora do centros de ensino, é o certame musical 'A Mocidade com a Língua'. Podes-nos falar um bocado sobre ela?

Começou a fazer-se muito aginha, lá polos anos 92-93, com a ideia de trabalhar com a gente nova num campo que lhe interessa muito, como é o musical. Na altura, havia bastantes grupos musicais juvenis, poucas ajudas e pareceu-nos que era umha via interessante para trabalhar.

Durante todos estes anos, houvo algumha interrupçom, depois de uns inícios de muito êxito. Ao início, o alunado manifestava certa “vergonha” por cantar em galego, mesmo nalguns casos se evitava usar o galego nos ensaios, deixando-o para as atuaçons a sério... nós insistíamos para que utilizassem o galego durante todo o certame...

coordena 

 

Existiam condiçons estritas?

Nom, havia flexibilidade, podiam ensaiar como quigessem, mas pretendíamos ajudar a que ultrapassassem aquela barreira que existia, que os fazia sentirem-se ridículos. Julgo que hoje podemos dizer que essa barreira foi quebrada, num momento em que nem tinham nascido outras iniciativas musicais como o Clube Xabarín, na TVG, que tanto fijo pola normalizaçom no ámbito musical. Este certame foi anterior.

Conseguimos que se sentissem à vontade cantando em galego em Ferrol, onde já era maioritária a juventude espanholfalante. Houvo muita participaçom nas diferentes fase eliminatórias até a fase final, onde havia também muitíssimo público.

Após uns anos de pausa, o Certame foi retomado. Hoje há menos grupos, que se repartem entre os profissionais e os propriamente escolares, mas a atividade continua.

Também o pluralismo étnico existente em Ferrol se viu integrado no Certame, nom é?

Sim, concretamente o coletivo cigano participou em várias ediçons, com os seus estilos musicais caraterísticos e em galego. Lembro um grupo que procedia do colégio de primário Manuel Masdias (do bairro ferrolano de Carança), chamado 'Olivo Azul', juntando a oliveira, árvore muito significativa na sua cultura, e a cor da nossa bandeira.

Tendes conhecimento de pessoas concretas que a partir do 'Mocidade com a Língua' passassem a falar mais galego ou que se dedicassem à música galega?

Em geral, nom se veem mudanças imediatas nas pessoas que participam nas nossa atividades, a nom ser nas atitudes, onde sim é evidente. No entanto, com o passar dos anos, vamos tendo conhecimento de pessoas que sim reconhecem a importáncia que na vida delas tivo terem participado no concurso.

Por outra parte, há grupos que gravárom e atuárom a partir de terem participado no 'Mocidade com a Língua'. É o caso, por exemplo, de Norfolk, que saiu daí, ou o que acabou sendo mánager , assim como a baterista, de Sés, que também passárom polo nosso certame juvenil, e que hoje reconhecem a importáncia daquilo.

Isso costuma acontecer no trabalho normalizador: os resultados às vezes nom som imediatos, mas com o tempo chegam.

Que outras atividades podes destacar entre as realizadas ao longo de todos estes anos?

Há umha de que eu gosto especialmente, que é o Certame Poesia e Imagem, chamada 'Em galego, sem filtro'. Gosto porque combina duas linguagens: a poética e a plástica, através das imagens. Quando começou, havia um debate social meio absurdo sobre se todo podia ser traduzido para o galego ou nom... A nossa proposta foi pegar em poemas das culturas mais diversas e exóticas, com grafias diferentes, mas também das próximas, e demonstrar que podiam ser traduzidos.

O trabalho gráfico e é avaliado por um júri, que seleciona umhas trinta para serem exibidas em exposiçons públicas. Aí tem havido materiais muito bons... esses quadros acabam por ficar em depósito nos centros, decorando os seus interiores por toda a comarca.

Por outra parte, temos publicado materiais poéticos e literários básicos, até recentemente iniciarmos um novo certame, chamado Carmela Loureiro em homenagem a umha companheira ativista da Coordenadora, já falecida. É um certame de micropoesia, microrrelato e microteatro, que fazemos em colaboraçom com a Cámara Municipal de Ferrol, e publicamos um volume com os trabalhos apresentados.

Levamos tempo organizando umhas jornadas chamadas "Teatro com G" onde a actividade teatral de dentro dos centros é mostrada fora, para outros centros de ensino e para famiiares. A cámara municipal pom à nossa disposiçom o teatro Jofre, é umha experiência inesquecível para o alunado poder encenar num teatro profissional desta qualidade. Actualmente os grupos participantes aumentam, o que é umha satisfaçom.

Umha actividade que realizamos durante uns anos e que poderia ser retomada, pois me parece muito positiva, chamava-se 'Com a língua de excursom' e consistia em organizarmos umha viagem para adolescentes à cidade do Porto, para que tivessem contacto direto com umha variante normalizada do galego e que vissem que através do galego podiam aceder a um país tam próximo e com tantas possibilidades de relacionamento para nós.

coordecamara

 

Como tem sido a relaçom com as instituiçons?

A resposta municipal sempre foi positiva por parte da Cámara de Ferrol, contando com apoios diversos nos sucessivos governos. Também temos um certo reconhecimento pola nossa atividade continuada, participando no Plano de Normalizaçom aprovado como referente no ámbito educativo.

Com a perspetiva que che dam estes anos de docente e ativista normalizadora, como vês a evoluçom dos usos e atitudes, tanto por parte do alunado como polos centros de ensino?

A minha visom é subjetiva, mas na minha experiência, a desgaleguizaçom em Ferrol foi rápida. Comecei a inícios dos anos 90 no bairro de Carança e já na altura o alunado nom era galego-falante. Porém, eu perguntava às minhas turmas quantos dos seus pais falavam galego e eram mais de metade, talvez até 70%.

Eu fum destinada para fora da comarca durante quatro anos e voltei ao mesmo centro. Aí perguntei novamente e a resposta já indicou umha presença familiar do galego muito menor, ficando reduzida praticamente aos avós. Por isso me parece que houvo umha grande desgaleguizaçom em pouco tempo.

Na atualidade, cada vez deteta-se mais dificuldade mesmo para falar galego, um grande empobrecimento no vocabulário e a introduçom dos tempos compostos do espanhol, o que antes nom acontecia nem nos espanholfalantes. Também se reproduzem tópicos sobre “imposiçom” da língua, que som fruto de campanhas intensas que tem havido nos últimos anos contra o galego.

Contodo, devo dizer que em pouco prazo podem recuperar a habilidade. Eu aspiro a conseguir que voltem a poder falar galego.

Quanto aos centros, penso que alguns centros cumprem com os “legalismos”, mas a maior parte nem isso, sobretodo no que se refere ao uso oral do galego, mesmo nas aulas de Língua. A Administraçom devia preocupar-se a sério com isso, porque só o voluntarismo nom chega.

Notárom-se as mudanças legislativas dos últimos anos?

Notárom-se principalmente os ataques que houvo, mudando atitudes a nível social, criando um ambiente em que as atitudes tenhem piorado, assim como a consideraçom do galego, considerado “pouco importante”.

Achas que nom estamos a conseguir fazer todo o necessário a nível coletivo para a recuperaçom do idioma?

Eu julgo que a soluçom nom vem tanto das iniciativas voluntaristas, sendo estas muito importantes. A soluçom depende mais da Administraçom, das leis, de medidas que contem com a cobertura do poder.

Muito obrigado polas tuas palavras e polo trabalho que fazedes.

Última modificação emTerça, 19 Julho 2016 11:59
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