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Galegos, galegas, cuidado com os falsos amigos!

Galegos, galegas, cuidado com os falsos amigos!

Maurício Castro

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Esta que parece umha advertência sobre as relaçons interpessoais, é na verdade só um conselho para termos um bom início de ano melhorando o nosso galego.

Sem entrarmos em disquisiçons técnicas mais pormenorizadas, comecemos por explicar que se conhecem com o nome de ‘falsos amigos’ os pares de palavras com formas semelhantes e significados diferentes em duas línguas ou mesmo entre variedades nacionais de umha mesma língua internacional, como a nossa.

Quando as línguas som muito próximas, como acontece entre galego e espanhol, as semelhanças formais com diferenças semánticas som muito abundantes, daí a importáncia de prestarmos atençom a este assunto, fortalecendo assim a fronteira de segurança frente à constante pressom do espanhol sobre o galego que, como sabemos, se verifica no nosso país.

A lista é tam ampla que dá para um dicionário, como de facto existem, de falsos amigos espanhol-português / português-espanhol. Inclusive na Galiza, Fernando Vasquez Corredoira já publicou há uns anos os seus 101 Falares com Jeito, um valioso contributo sobre este asssunto. Vou nesta ocasiom referir-me só a quatro bastante comuns na língua oral e escrita presente na internet, em sites informativos galegos, fóruns e comentários de atualidade. Nos quatro casos, trata-se de formas padronizadas e nom de variantes coloquiais ou dialetais.

Os pares que a continuaçom vou comentar som os seguintes:

Galego Espanhol Espanhol Galego
apenas sólo apenas quase nom, escassamente
valorizar poner en valor valorar avaliar
ilusom quimera ilusión entusiasmo, motivaçom
desbotar desteñir desechar descartar

 

Começamos comentando um caso claro, por nom ter modificaçons morfológicas nem pseudotraduçons associadas. Trata-se do advérbio ’apenas’, que em galego e em espanhol tenhem significados quase opostos. Só para compreender essa oposiçom, reparemos nestes dous exemplos:

- Os meus vizinhos apenas fam barulho. Som insuportáveis!

- Mis vecinos apenas hacen ruído. Son maravillosos!

Como se vê, o 'apenas’ galego corresponde com o espanhol 'sólo’, enquanto o 'apenas’ espanhol corresponde com o galego 'quase nom’. Quer dizer, no primeiro exemplo anterior, os vizinhos fam muito barulho, daí serem insuportáveis, mas no segundo exemplo 'quase nom fam barulho’, por isso som maravilhosos.

No segundo caso, devemos ter em conta que ’valorizar’ tem em galego sentido exclusivamente positivo, nom cabendo portanto umha valorizaçom negativa, que em galego se expressa com o verbo 'desvalorizar’. Repare-se que na linguagem jornalística e política espanhola está na moda utilizar a forma 'poner en valor’ precisamente para o significado que em galego representa o verbo 'valorizar’. Devemos, entom, evitar o uso de formas pseudogalegas como 'pôr/ponher em valor’, decalque totalmente alheio à nossa língua, que cada vez é mais habitual em textos escritos e declaraçons orais nos meios de comunicaçom em galego.

Eis um exemplo contrastivo entre o uso correto em galego e espanhol.

- O nosso património deve ser valorizado.

- Nuestro patrimonio deve ser puesto en valor.

Tenhamos também em conta que o verbo espanhol 'valorar’, que pode ter, esse sim, sentido positivo ou negativo, tem em galego a sua correspondência em 'avaliar’, que admite igualmente um resultado positivo ou negativo: 'avaliar negativa ou positivamente’.

A seguir o exemplo que ajuda a distinguir os usos diferenciados nas duas línguas:

- A seguir ao desastre, a seguradora avaliou os danos.

- Después del desastre, la compañía de seguros valoró los daños.

Ilusom’ é outro dos vocábulos na moda, principalmente em períodos eleitorais em que as diversas candidaturas aspiram a provocar precisamente 'ilusom’ na populaçom votante. Isso em espanhol, porque em galego devemos utilizar 'entusiasmo’, 'motivaçom’, 'esperança’… tendo em conta que na nossa língua a 'ilusom’ corresponde com umha 'quimera’, um engano dos sentidos ou umha esperança irrealizável, o que na verdade corresponde bastante com o efeito das campanhas eleitorais sobre o público-alvo…

Talvez estes exemplos ajudem a estabelecer esta distinçom:

- A candidatura emergente conseguiu movimentar o entusiasmo de um importante setor, só esperamos que nom tenha sido umha pura ilusom.

- La candidatura emergente consiguió movimentar la ilusión de un importante sector, sólo esperamos que no haya sido una pura quimera.

Por último, o quarto exemplo sobre o qual gostávamos de chamar a atençom é ’desbotar’, utilizado em galego como decalque do espanhol 'desechar’, em falsa analogia com a traduçom de 'echar’ como 'botar’, essa sim, correta. Na verdade, 'desbotar’ deve ser reservada em galego para a ideia que em espanhol expressa o verbo 'desteñir’ ou 'descolorir’, reservando a forma galega 'descartar’ para a correspondente espanhola 'desechar’.

- Ao que todo indica, foi um acidente, mas nom podemos descartar outras hipóteses, ainda que as cores estivessem desbotadas.

- Todo indica que fue un accidente, pero no podemos desechar otras hipótesis, aunque los colores estuvieran desteñidos.

Com estes quatro exemplos, representativos de umha confusom muito estendida na Galiza por interferência da língua de poder, queremos unicamente chamar a atençom sobre a necessidade de nos mantermos alerta, pois a degradaçom formal da nossa língua acompanha a par e passo a funcional.

Tal como avançamos no início, é verdade que também existem 'falsos amigos’ internos entre variedades de umha mesma língua. No nosso caso, entre as variedades galega e lusitana, tal como existem entre a lusitana e a brasileira.

Porém, achamos prioritário marcar distáncia frente ao espanhol, verdadeira ameaça nas condiçons de indefensom sociolingüística que a nossa língua padece. Sobre os 'falsos amigos’ galego-lusitano, lusitano-brasileiro ou mesmo galego-brasileiro, talvez falemos num próximo artigo…

Publicado em:

Diário Liberdade

Galicia Confidencial

Sermos Galiza

Última modificação emQuarta, 20 Janeiro 2016 20:17
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